Na madrugada de 5 para 6 de janeiro, os grupos de reiseiros das aldeias do concelho de Alenquer saíram uma vez mais à rua desafiando a noite e o frio, para Pintar e Cantar os Reis.
Quem pinta segue à frente e, em silêncio, com as tintas, pincéis e lanternas, faz os tradicionais desenhos dos Reis nas entradas das casas. Atrás segue o grupo que canta – o coro liderado pelo apontador. À semelhança dos últimos anos, não estavam sós.
O município de Alenquer voltou a organizar um roteiro pelas diversas aldeias onde se cumpre este ritual ancestral. Este ano, destaque para o regresso da tradição à aldeia de Pocariça, depois de quase quarenta anos de ausência. Constituído por cerca de 30 elementos, entre rapazes e raparigas, este grupo está determinado em que o Pintar e Cantar dos Reis não volte a cair no esquecimento na sua aldeia. A tradição cumpre-se ainda nas localidades de Casal Monteiro, Catém, Mata, Penafirme da Mata, Olhalvo, Paúla, Cabanas de Torres, Ota, Abrigada, Bairro e Cabanas do Chão. A integrar o Roteiro encontravam-se este ano cerca de 20 alunos do Curso de Design e Multimédia da Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Caldas Rainha, orientados pelo professor Mário Caeiro, e elementos do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, entre os quais a musicóloga Celina Piedade e a investigadora Joana Rodrigues. Apesar de pertencerem a universos académicos distintos, ambos vieram a Alenquer a convite do município, na segunda fase do “Tradições”, programa da EDP que tem por objetivo apoiar projetos de preservação das práticas mais genuínas da cultura popular portuguesa. A ESAD numa abordagem a formas de marketing, promoção, divulgação, criação de conteúdos, merchandising, entre outros, e a Universidade Nova, numa abordagem ao estudo das melodias, letras, simbolismos e todo o aspeto etnográfico do Pintar e Cantar os Reis. De recordar que a primeira fase do “Tradições” incluiu a reconversão do Posto de Turismo de Alenquer num Centro Interpretativo do Pintar e Cantar dos Reis, e a colocação de sinalética e informação nas aldeias assinaladas nas Rotas entretanto definidas. Nesta segunda fase, pretende-se sobretudo aprofundar os conhecimentos sobre esta tradição ancestral, e quais as formas de a difundir e divulgar, mantendo em simultâneo a sua identidade mais genuína, não a tornando uma mera atração turística. Um primeiro relatório sobre estes estudos será revelado no inicio do mês de fevereiro. De destacar ainda no Roteiro deste ano, o aumento significativo de casas que abrem as suas portas para acolher os Reiseiros e os visitantes, com petiscos e bebidas para aquecer, retemperar forças e não menos importante conviver. Quem quiser saber mais sobre esta tradição e não quiser aguardar até ao próximo Pintar e Cantar os Reis, pode visitar em qualquer altura do ano o Centro Interpretativo no Parque Vaz Monteiro em Alenquer, e a partir de aí seguir as diversas rotas já devidamente assinaladas. Mais fotos disponíveis no álbum dedicado ao Pintar e Cantar dos Reis 2019 na página oficial do município no Facebook. |