O Município de Alenquer, o ISPA e as Águas do Tejo Atlântico assinaram a 2 de outubro, um protocolo de adesão ao projeto “Peixes Nativos – Monitorização e Educação Ambiental”, que contempla o estudo e monitorização dos cursos de água do município e o desenvolvimento de ações de informação e sensibilização junto das escolas.
O Projeto Peixes Nativos teve inicio em 2017, e para além
das monitorizações científicas, prevê a realização de ações de sensibilização
ambiental dirigidas a crianças das escolas de 1º ciclo.
O município de Alenquer é o mais recente aderente a este
programa, atualmente já a decorrer nos concelhos ribeirinhos de Torres Vedras,
Mafra e Oeiras.
Numa primeira fase, o trabalho junto das escolas será desenvolvido
com uma turma do 4º ano do Centro Escolar de Alenquer. Os alunos vão participar
em atividades de sensibilização e educação ambiental em sala de aula,
complementadas por saídas de campo ao rio de Alenquer. Este trabalho será
desenvolvido pela equipa técnica de monitorização da ictiofauna do ISPA.
A anteceder a assinatura do protocolo, a Biblioteca
Municipal de Alenquer recebeu a 28 de setembro, um workshop subordinado ao tema
“Os Peixes Nativos dos Rios do Concelho de Alenquer – Como Garantir a Sua
Sobrevivência”, por Carla Sousa Santos Bióloga do MARE-ISPA.
Esteve ainda presente Sara Duarte das Águas do Tejo
Atlântico, parceira do ISPA no projeto “Peixes Nativos – Monitorização e
Educação Ambiental”.
A primeira parte do workshop foi constituída por uma sessão
teórica, onde a bióloga traçou um quadro preocupante dos ecossistemas
ribeirinhos, com a maioria das espécies de peixes de água doce nativas de
Portugal a enfrentarem risco de extinção.
Entre as principais ameaças à conservação das espécies
contam-se múltiplos fatores, muitas vezes com efeito simultâneo e cumulativo: poluição,
destruição de habitats, escassez de água, proliferação de espécies exóticas, e
perda de conectividade por construção de barreiras intransponíveis (barragens e
açudes).
Para Carla Sousa Santos é essencial apostar na sensibilização
e educação ambiental, até porque muitas das ameaças de origem humana, ocorrem
por falta de conhecimento.
Segundo a Bióloga, um dos erros que se cometem com maior
frequência é a limpeza sem critério dos cursos de água, eliminando toda a
vegetação do rio. As plantas aquáticas são, contudo, essenciais para os
ecossistemas ribeirinhos, reduzindo a velocidade da água, garantindo refúgios
para a reprodução dos peixes, entre outros benefícios.
“Muitas vezes as autarquias são até pressionadas a ir contra
os pareceres dos seus técnicos, de forma a satisfazer as exigências da
população, e é por isso muito importante que existam sessões de esclarecimento
e sensibilização”, defendeu, perante uma plateia composta na sua maioria por
estudantes de Biologia e professores.
Perante a ameaça iminente de extinção de algumas espécies de
peixes, foi desenvolvido o projeto de Conservação Ex-situ de Organismos
Fluviais (coordenado pelo ISPA, Quercus, e Aquário Vasco da Gama) que desde
2008 já assegurou o repovoamento de 11 populações ameaçadas com mais de 19.000
peixes criados em cativeiro.
Estes repovoamentos
são feitos com descendentes de peixes capturados nas populações-alvo,
preservando assim a sua integridade genética.
A segunda parte do Workshop foi constituída por uma saída de
campo, no troço de rio junto ao parque urbano da Romeira. Com recurso à técnica
de amostragem científica por pesca elétrica, demonstrou-se como se identificam as
espécies de peixes de água doce que povoam o rio de Alenquer.
Entre as espécies identificadas contam-se a
Boga-de-boca-reta, o Barbo-comum, a Verdemã e o Bordalo, todas elas com
categoria de ameaça “pouco preocupante”. Foi ainda identificada uma enguia, um
sapo-comum e um lagostim, esta última uma espécie invasora que se espalhou de
norte a sul de Portugal.
Não foi, contudo, possível capturar uma Boga-portuguesa, o
que parece confirmar os piores receios dos biólogos, que classificam esta
espécie como “criticamente em perigo”, nem o Escalo-do-sul, espécie “em perigo”.
Ações de repovoamento do rio de Alenquer não estão para já
previstas, mas podem vir a ser equacionadas caso os trabalhos assim o indiquem,
esclareceu Carla Sousa Santos.
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